domingo, 26 de dezembro de 2010

júlio brandão (1869-1947)


De nome completo Júlio de Sousa Brandão (Vila Nova de Famalicão, 09/08/1869; Porto, 10/04/1947), o seu anscimento esteve envolvido em algum mistério. A família em 1874 fixa residência no Porto, na medida em que o pai, Aires Pinto de Sousa, funcionário da CP, aí seria colocado. Será na cidade portuense que Júlio Brandão desenvolverá toda a sua actividade profissional e literária. Profissionalmente, destaca-se a nomeação (1 de Novembro de 1894) do cargo de professor na Escola do Infante D. Henrique. A sua actividade de pedagogo revela-a nos três livros que publicaria à volta da didáctica literária: "Leituras Portuguesas" (1907), "Livro de Leitura para as Classes I e II: ensino secundário" (1928) e "Livro de Leitura para a 4.ª Classe" (s. d.). Em 1919 é nomeado para o cargo de Director do Museu Municipal do Porto, cargo que ficaria até 1939, ano em que se aposentaria. Tal cargo valeu-lhe uma polémica com Pedro Vitorino, a propósito da actividade desenvolvida por Brandão no mesmo Museu (hoje Soares dos Reis). Nesta sua actividade, evidencia as suas preocupações estéticas, nomeadamente com "Os Melhores Quadros do Museu Municipal do Porto" (1927), "Pintor Roquemont" (1929) e "Miniaturistas Portugueses" (1933). Na actividade literária, está patente o poeta, o ficcionista (conto e teatro), o memorialista e o jornalista. Na fase de maturação poética, inscreve-se na corrente estética do Nefelibatismo, corrente literária da última década do século XIX, manifestando-se com o "Livro de Aglais" (1892), o que lhe valeu uma carta-prefácio de Guerra Junqueiro. Toma parte na redacção ao lado de Raul Brandão e de Justino de Montalvão do manifesto "Os Nefelibatas" (1892) - tal como nos diz Júlio Brandão, eles eram "autenticamente macabros". Com Raul Brandão (apelido que de familiar nada tem), tece uma mútua colaboração, nomeadamente no conto (principalmente na "Revista Ilustrada", 1891-1892), na hagiografia ("Vida de Santos", 1891) e no teatro, com a peça "A Noite de Natal", tendo sido representada no Teatro D. Maria em 1899 e cujo texto só seria publicado em 1981. Paralelamente, colara nas revistas simbolistas "Intermezzo" (1891) e "Boémios" (1899), assim como em "Um Feixe de Plumas" (1890). Enquanto contista, irá estrear-se com "Farmácia Pires", cujo conto foi publicado inicialmente na "Revista de Portugal" (1892) dirigida por Eça de Queirós e mais tarde publicado em livro (1896), integrando-se na estética literária do naturalismo. No jornalismo, fundaria Júlio Brandão o jornal "Correio da Manhã" (1899), publicaod em Lisboa, tendo sido o redactor e o editor. Com Álvaro de Castelões publicou e dirigiu, entre 1929 a 1933, a "Revista Internacional O Soneto Neo-Latino", editada em Vila Nova de Famalicão. Aliás, Brandão sempre manteve com a terra natal uma relação afectuosa e literária: afectuosa, porque aí passava as suas férias, como igualmente colaborou na imprensa famalicense, caso das revistas literárias "A Alvorada" e a "Nova Alvorada", mas também no jornal "Estrela do Minho". Manteve sempre com a imprensa uma assídua colaboração, sendo vários os títulos, destacando-se, inquestionavelmente, o jornal portuense "O Primeiro de Janeiro" entre 1920 a 1947 na divulgação da cultura portuguesa. Neste âmbito, publicaria "Garrett e as Cartas de Amor" (1913), colabora no "In Memoriam" de Eça de de Queirós (1922), efectua um prólogo às "Cartas de Camilo a Eduardo da Costa Santos" e prefacia o livro "Camilo e Cipriano Jardim" (1937), entre outros estudos. Se hoje em dia se destaca o memorialista ("Bustos e Medalhas", 1925; "Poetas e Prosadores", 1928; "Galeria das Sombras", 1935 e "Desfolhar dos Crisântemos", 1945, livros que reúnem os textos que então ía publicando no jornal "O Primeiro de Janeiro"), revela-se igualmente o poeta (com influências simbolistas de Heinrich Heine, pelas reminiscências filosóficas de Antero de Quental, pelo misticismo profético de Guerra Junqueiro, ou pelo intimismo popular e saudosista de António Nobre), encontrando-se traduzido para sueco por Goran Bjorkmann, para italiano por G. Cellini, assim como para catalão (conto e poesia) por Ribera I. Rovira. Manteve uma polémica literária com Teixeira de Pascoaes, a qual se iniciaria num inquérito literário promovido em 1912 por Boavida Portugal. Na política, sabemos que em em 1915 Ribeiro de Castro convida-o para integrar no seu ministério, declinando o convite; e em 1919 o seu nome é sugerido, ao lado de Álvaro de Castelões, para ser nomeado para a Comissão da Junta Patriótica do Norte, no Porto. Teve as seguintes nomeações: em 1898, Sócio Correspondente da Academia Nacional de Belas-Artes e do Instituto de Coimbra e, em 1909, da Academia de Ciências de Lisboa. A sua actividade e personalidade literária foi alvo de várias homenagens promovidas pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão: 1950 (em parceria com a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto), tendo sido inaugurada a glorieta, cuja foto aqui se apresenta; 1969, comemorações do centenário de nascimento; 1992, centenário da publicação "O Livro de Aglais" e, em 2005 "Gentes da Terra Famalicão-Ciclo de Conferências". No outro blog, tenho dado destaque a Júlio Brandão. http://litfil.blogspot.com

BIBLIOGRAFIA
Alfredo de Magalhães - Júlio Brandão, 1950; Amadeu Gonçalves - A Minha Homenagem a Júlio Brandão (1869-1947), V. N. de Famalicão, 2009; Antologia de Autores Famalicenses, 1998; António Manuel Couto Viana - As (e)vocações literárias: estudos e memórias, 1980; Uma Aproximação aos Autores Famalicenses: catálogo da exposição, V. N. de Famalicão, 1998; Biografias: autores famalicenses, V. N. de Famalicão, 1998; Benjamim Salgado - Júlio Brandão e a sua Obra, V. N. de Famalicão, 1969; Fernando Guimarães - Poética do Simbolismo em Portugal, 1990; Isabel Pires de Lima - Trajectos: o Porto na memória naturalista, 1989; José Carlos Seabra Pereira - Decadentismo e Simbolismo na Poesia Portuguesa, 1975; Raul Brandão e Júlio Brandão na Renovação Literária dos Fins do Século XIX, 1981; A Obra Neo-Romântica de Júlio Brandão, 1981; Júlio Brandão, Troveiro e Nefelibata, 2006; José Casimiro da Silva - Júlio Brandão, Criador de Beleza, V. N. de Famalicão, 1959; Maria Adelaide Valente - A Harpa de Cristal: emsaio sobre Júlio Brandão, 2000; Odete Paiva - Teias de um Nascimento, V. N. de Famalicão, 2008; Vasco César de Carvalho - Na Morte de Júlio Brandão, V. N. de Famalicão, 1949; Xesús Alonso Montero - Soneto Neo-Latino, V. N. de Famalicão, 1996.
Projecto em curso
"Dicionário de Escritores Famalicenses: século XVIII a XX".
Por Amadeu Gonçalves

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