segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

o 31 de janeiro em v. n. famalicão

para o dr. sá da costa, com um abraço de fraterna amizade



A "31 de Janeiro - Associação Cultural e Cívica" do Porto, comemorou ontem em Vila Nova de Famalicão no Pica-Pau, o que se passou em 1969 no mesmo sítio, a 31, na evocação da data histórica pós-ultimatum 1890. A 27 de Janeiro de 1969, um requerimento então dirigido ao Governador Civil de Braga, solicitava autorização para as comemorações do 31 de janeiro de 1969 em famalicão, "à semelhança do que está previsto e autorizado em outros pontos do Pais." Os signatários, conforme se pode ver no requerimento que se reproduz, intitulavam-se "democratas do concelho de Vila Nova de Famalicão." Os jornais nacionais deram eco do acontecimento. É o caso do "Diário de Lisboa", o qual noticia, a 31, a actividade da oposição democrática a nível nacional perante as comemorações da respectiva data histórica republicana. Da actividade realizada em Famalicão, fala nela nos seguintes termos: "a mesma data histórica é assinalada por um jantar, na qual presidirá o sr. dr. António Cleto Malvar e no qual serão oradores os advogados srs. drs. Joaquim da Silva Loureiro e António Macedo Varela." Com o texto histórico "Aspirações Nacionais - as dos Combatentes do 31 de Janeiro", de Raul Rego, e publicado no mesmo jornal, a propósito da data histórica que então se comemora, dirá, a dado passo, que "o 31 de Janeiro correspondia, sem dúvida, aos anseios mais íntimos da alma nacional."

Joaquim Loureiro discursando




Contudo, não deixa de ser curioso que, apesar das actividades serem autorizadas oficialmente, os intervenientes mencionados, assim como outros, verão o seu nome num oficio confidencial de 16 de Maio de 1969 do então Presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, João Garcia Dias da Costa, para o Governador Civil de Braga, constando no mesmo ofício um curriculum das suas actividades políticas, com referências pessoais. Não coloca em causa, eis o paradoxo, da idoneidade moral dos mesmos. Vejamos os três mencionados:


  • António Cleto Malvar. Tem o 4.º ano de Direito é comerciante cujo estabelecimento é local de reuniões políticas. No meio da oposição é influente pelo auxílio mmaterial. Possui casa de habitação em Gavião, onde consta que tem havido reuniões políticas. Ultimamente também constou, embora sem confirmação até à data que as tem feito numa casa agrícola que possui na freguesia de Telhado.
  • Dr. António Macedo Varela. Advogado, estudioso. Trabalhador em cuja residência tem juntado juventude que gravita à sua volta e aglutinou mercê da iniciativa que tomou de criar um cine-clube. É influente. É activo.
  • Dr. Joaquim Loureiro. Advogado que veio das Caldas da Rainha fazer estágio em Famalicão onde ficou a trabalhar no escritório do Dr. Armando Bacelar. Foi expulso da Escola Técnica onde era professor. Frequenta a Igreja e mostra-se especialista em documentos papais. Oposicionista activo, dirige a juventude e faz reuniões onde são lidos os pensamentos de Mao Tsé-Tung- Trás estudantes de Coimbra para falarem nessas reuniões. Tomou parte no Colóquio do Senhor Ministro das Corporações. Apregoa ser católico mas não tem boa aceitação no meio católico. Está em formação obedecendo a instruções, desempenhando tarefas.



As comemorações do 31 de Janeiro de 1969 foram, podemos dizer, o primeiro momento da campanha eleitoral da oposição democrática nas eleições legislativas do mesmo ano, as quais se realizaram a 26 de Outubro. Neste âmbito, nas comemorações do 40.º Aniversário das Eleições Legislativas de 1969, o Museu Bernardino Machado organizou uma evocativa das mesmas, com uma mesa-redonda, na qual participaram Artur Sá da Costa, Macedo Varela, Joaquim Loureiro, Margarida Malvar e Eduardo Ribeiro, moderada por Norberto Cunha, coordenador cinetífico do respectivo Museu. A referida exposição ficou assim organizada: i) Comemorações do 31 de Janeiro; ii) Congresso Republicano; iii) Revolta Académica de Coimbra; iv) Eleições Legislativas de 1969; v) Braga. Vila Nova de Famalicão. O catálogo desta exposição, assim como a própria mesa-redonda, com um texto introdutório de Artur Sá da Costa ("Eleições Legislativas de 1969: a esperança ou ilsuão?"), encontra-se publicado no "Boletim Cultural" da autarquia famalicense, 3.ª série, n.º 5, de 2009.

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