O convidado da IV conferência do IV Ciclo de Conferências denominado “As Mulheres e a I República”, foi o Professor e investigador João Esteves, com a conferência intitulada “Cidadãs Republicanas”. O Professor Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, e em representação do Vereador da Cultura e Vice-Presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, para além da respectiva apresentação do conferencista, anunciou que o Professor João Esteves terá a seu cargo, numa edição da autarquia famalicense com o Museu Bernardino Machado, a publicação da correspondência das mulheres com Bernardino Machado. O Professor João Esteves considerando Bernardino Machado uma figura central relativamente às mulheres, o Museu tem um espólio invejável, já que muitas delas, caso de Ana de Castro Osório, não só tinham relações de amizade com Bernardino Machado e Elzira Dantas, como estes eram amigos de confidências únicas.
Começou a sua conferência por anunciar que a actividade política e de cidadania por parte das mulheres não começou com a República, iniciando tal actividade cívica muito antes. As mulheres, na viragem do século, começam a lutar pelos seus direitos cívicos e de cidadãs, casos de Beatriz Pinheiro, Maria Veleda, Ana de Castro Osório, entre outras republicanas, desde as libertárias e pacifistas, republicanas e feministas e até monárquicas. Se em 1906 começam a fundar os grupos pacifistas e feministas, caso da Liga Portuguesa da Paz, ou o Núcleo Português das Feministas em 1907. Mas já antes, Ana de Castro Osório, numa carta dirigida a Bernardino Machado, pretendia já criar e fundar uma liga feminista. A partir de 1908 republicanas e monárquicas diferenciam-se devido ao regicídio, existindo então uma republicanização feminista. Em 1908 surge a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, apadrinhada por Bernardino Machado, António José de Almeida e Magalhães Lima, tendo mais de 1000 sócias inscritas, num conjunto de mulheres urbanas, intelectuais ou letradas.
O Professor João Esteves na sua intervenção
É a partir desta data, com o beneplácito de Bernardino Machado, que as mulheres começam a participar nos comícios, a partir do momento em que começam a secretariar, pretendendo, ao mesmo tempo, desmarcar-se e tendo mais visibilidade. É o caso de Maria Veleda, a qual, num discurso de 1908, a 9 de Fevereiro, num panfleto publicado, anuncia que a dor da Rainha não é mais do que a dor das outras mães quando perdem um filho ou um marido e diz que “morreu um Rei: antes um Rei que um homem”! Desta forma, defende indirectamente o regicídio. E se antes do regicídio o termo feminismo era uma constante, depois ele deixa de aparecer na imprensa, na qual não há polémicas estéris, mas temos polémicas com conteúdos. Não deixa de ser curioso que num inquérito que a imprensa promove para que as mulheres escolhessem um republicano, a escolha, que recai em António José de Almeida, a escolha não deixe de ser errada; e é uma escolha errada na medida me que, enquanto Ministro do Interior, será o homem que não irá permitir o voto das mulheres! Se a partir de 19010 se tornam claramente feministas e republicanas, as mulheres encontram directamente ligadas à Lei do Divórcio. Desta forma, as mulheres estavam perfeitamente integradas quando se dá a República enquanto cidadãs.
Ganham a cidadania, numa intensa actividade no antes e pós a implantação da República. Quando começam a aparecer publicamente, estando meramente presentes, e, depois, discursando, começam a ter visibilidade. Bernardino Machado dá-lhes referência. O Professor João Esteves salienta o voto de Carolina Beatriz Ângelo, que teve uma repercussão admirável na imprensa estrangeira. E, se numa primeira fase, caso de Maria Veleda, acusa os republicanos de serem uns vira-casacas, as mulheres em 1915 não de actuar para criticar activamente a ditadura de Pimenta de Castro: as mulheres vão participando, mas vão sendo cada vez menos. O que vai unir as mulheres feministas e republicanas nesta fase, vai ser a I Guerra Mundial, a qual vai permitir a fundação e a criação, com Elzira Dantas, mulher de Bernardino Machado, então Presidente da República, da Cruzada das Mulheres Portuguesas, a qual terá delegações por todo o país, não tendo só republicanas na sua direcção.
Os anos 20 vão trazer um outro género de mulheres, já saída das faculdades, e a imprensa deixa de tratar as mulheres pelos nomes próprios, entrando a ditadura militar de 28 de Maio de 1926 com a exclusão então das mulheres na vida pública. O professor José Esteves termina a sua conferência anunciando que muitas questões que os investigadores contêm irá passar pelo Museu Bernardino Machado, precisamente pela relação de amizade e de confidência que Machado tinha com muitas mulheres. É o caso da ruptura de Adelaide cadete com Ana de Castro Osório.
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