sábado, 5 de fevereiro de 2011

o feminismo e a I república na visão de fernando catroga

O MUSEU, UMA CASA VIVA





  • O Professor Fernando Catroga, no início da sua comunicação, realçou a ideia dos museus como casas vivas, realçando a apresentação que o Dr. Sá da Costa, em representação do vereador da cultura e vice-presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, Dr. Paulo Cunha, proporcionou na apresentação não só na apresentação do IV Ciclo de Conferências, subordinado à temática "As Mulheres e a I República", como na do próprio conferencista. A I República, hoje, segundo o Dr. Sá da Costa, não se compreende sem os estudos do Prof. Fernando Catroga, relativamente às ideias filosóficas que influenciaram o ideário republicano, caso da secularização, da laicização, ou da sua própria idealização política. Um dos livros que focou foi, precisamente, "O Republicanismo em Portugal". Por seu turno, o Prof. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado (onde a conferência do Prof. Fernando Catroga se realizou, ontem, pelas 21h30), enaltecendo a figura do historiador das mentalidades, salientou alguns livros que merecem ser lidos do Prof. Fernando Catroga. Uma outra ideia que salientou foi que, apesar do poder político ser madrasto para com os historiadores, tal não é o caso do Prof. Fernando Catroga, na medida em que já foi condecorado com a Ordem de S. Tiago de Espada (mérito científico) e com a Medalha de Honra da Universidade de S. Paulo.



  • Começando por citar Michelet, o Prof. Fernando Catroga pretende realçar a ideia de que o historiador faz a história, é certo, mas o historiador tem de perceber que a história o faz a ele. Neste aspecto, salienta o campo historiográfico da história das ideias, o qual, perante o sistema organizativo das sociedades, no caso da ocidental, ganhou várias correntes historiográficas, ganhando sensibilidade para temas silenciados da história. Neste caso, os problemas devem ser reconvertidos para o presente perante a emergência de novos protagonistas, para que a história não seja só a do poder, mas que seja a história do outro lado, caso da morte, do grupo dos marginais, a história das mulheres, o quotidiano, o privado. Estamos perante uma nova tomada de consciência de fazer história por parte do historiador. Assim se abre pontos de diálogo com as outras ciências sociais. Fazer história é, assim, dar voz ao passado em direcção ao futuro. Para o Prof. Fernando Catroga, as palavras devem ser bem medidas para pensar o que se pretende falar. Falar das mulheres na República, para além da existência de algum proselitismo, tem levado alguns historiadores a confundirem o feminismo com a história das mulheres no mundo republicano, considerando alguns casos que o feminismo foi exclusivamente republicano, esquecendo outras abordagens, tal como feminismo e a República, feminismo e intelectualismo, as mulheres feministas monárquicas, a mulher e o mundo do trabalho, a mulher-artista, a mulher no quotidiano, no social, etc. Temos um campo riquíssimo, portanto, de abordagens. No fundo, o Prof. Fernando Catroga defende a ideia de uma sobrevalorização do feminismo que tem esquecido essencialmente a condição do feminino. Com isto, não pretende criar nenhum dualismo, já que há mulheres feministas que pretendem dar voz a outra que não têm voz.
O Dr. Sá da Costa na apresentação inicial do IV Ciclo de Conferências e do conferencista, o Prof. Fernando Catroga

  • O movimento feminista, com intensificação nos finais de oitocentos, pretende enaltecer a questão da dignidade humana da mulher, estando em causa a história do género. Neste sentido, o universalismo, a igualdade, e na junção destas duas ideias surge e realiza-se, no século XX, a emancipação, cujo termo deriva da palavra revolução. Numa revolução pretende-se edificar algo novo, no fundo, o que ainda não existe. Tem-se falado, desta forma, numa revolução industrial, numa revolução cultural, numa revolução social (quando a questão do social se coloca), uma revolução dos costumes, etc. O que vai substituir a palavra revolução será a palavra emancipação perante o mundo feminino: emancipação política, emancipação social, emancipação das mulheres, surgindo assim um universalismo, uma igualdade nos movimentos feministas do Século XIX, aparecendo um pouco por todo o lado. Surgem, desta forma, as mulheres escritores, tipo Georges Sand. A novidade é esta: a necessidade das mulheres serem as protagonistas perante a ideia de sociabilidade, isto é, na criação de associações.
O Prof. Fernando Catroga a ser entrevistado para o canal de televisão "Porto Canal"
  • O que acontece em Portugal, é que tal movimento feminista aparece num grupo restrito, num escol restrito. Contudo, não quer dizer, tal situação, ou não significa uma desvalorização do fenómeno perante a sociedade política do seu tempo. Para o Prof. Fernando Catroga, as feministas portuguesas não serão propriamente feministas, mas colocam em causa alguns preconceitos, caso da origem sexual, perante a problemática da natureza humana. Os direitos da mulher, os direitos civis, o acesso à educação, o direito de poder assumir a própria racionalidade como o homem, o direito ao corpo, são algumas das temáticas que as feministas portuguesas irão reivindicar. Em Portugal, não podemos falar em termos propriamente ideológicos do movimento feminista, mas há mulheres que levantam a voz pela emancipação da mulher, reivindicando, perante o já assinalado, o acesso da mulher à cultura, às oportunidades. As mulheres na República vão ser criadoras de associações, relacionando-se com as suas similares internacionais, com a ideia base de lutar contra a ideia angelical da mulher e na ideia do acesso à educação e à instrução, que o analfabetismo feminino possuía uma taxa elevadíssima.


O Prof. Fernando Catroga
  • Nos inícios do Século XX, surge em Portugal, assim, um escol, uma elite de activistas que aparecem com uma clara ideia da politização do pretendido. Fazem parte, desta elite feminina urbana, essencialmente, professoras, escritoras, jornalistas, médicas, farmacêuticas, domésticas, de valor social elevado (caso de Elzira Dantas). Aliás, para o prof. Fernando Catroga, esta elite feminina nasceu com uma certa compreensão por parte de alguns homens ligados à República, caso de Sebastião Magalhães Lima, Teófilo Braga e mesmo Bernardino Machado. E. caso curioso, muitas delas iniciaram-se na Maçonaria, criaram, paralelamente, lojas maçónicas, e, outro facto de salientar, criaram lojas mistas, caso de Carolina Beatriz Ângela. Alguns grupos feministas, que nasceram da cisão entre socialistas e republicanas: Liga das Mulheres Republicanas Portuguesas, Grupo das 13, A Cruzada das Mulheres Portuguesas, a União das Mulheres Socialistas, a Comissão Nacional das Mulheres Portuguesas, entre outros grupos. O último será o que durará mais tempo, realizando congressos feministas.



O Prof. Fernando Catroga na sua intervenção
  • Para o Prof. Fernando Catroga, o feminismo republicano português conseguiu vitórias importantes, não tendo sido propriamente derrotado. Desta forma, articulou a questão social com a política, numa luta constante pelos direitos civis, caso do divórcio, a questão do sufrágio universal e a lei da família.




Um aspecto do público, notando-se a presença da turma EFA-Secundário, da Escola D. Sancho I, com a presença do Prof. Eugénio Oliveira
  • Concluiu que a História não é uma linha recta, afirmando que uma coisa são as ideias, a luta por elas, e outra a sua realização. A História é escrita com tempos e temporalidades distintas, dando o exemplo da questão do sufrágio universal. E se os republicanos idealizaram na fase de propaganda o sufrágio universal, chegando ao poder, aperceberam-se que, tal idealização, na prática, no mundo rural, levava ao caciquismo e à corrupção. A luta do feminismo português cingiu-se particularmente ao problema do sufrágio universal, conseguindo a República, uma cidadania activa e uma outra cidadania passiva.


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