sábado, 23 de abril de 2011

camilo e as romarias





As romarias desta região mais idólatra da Europa vão decaindo. Anos de pouco vinho, por via de regra, são anos de pouca devoção. As almas enchiam-se de fé, ao passo que as pipas se enchiam de ar. Afinal, os devotos mutuavam-se grossa pancadaria, no auge da contrição, para mutuamente se castigarem do pecado da bebedeira. Assim que o bicho entrou pela videira, o pulgão afistulou-se nas convicções do calendário, entraram os povos a duvidar dos santos taumaturgos, e inclinar-se mais para as drogas dos boticários; e houve aí incrédulo que recorreu às papas de linhaça no pescoço antes de se apegar com S. Brás, e as pílulas de família estão fazendo vantajosa oposição aos exorcismos. Tudo isto por falta de vinho. Pergunta-se a um lavrador se não vai à romaria de Santo Amaro ou Santa Luzia. Responde que deve à santa advogada da vista uma promessa; ; mas que se não pode ir a romagens enquanto o vinho estiver a dezasséis vintéis a canada. Eis a fé... na canada.



Camilo, Ecos Humorísticos do Minho



do projecto literário

o minho de camilo



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