sábado, 9 de abril de 2011

carolina beatriz ângelo, a iluminista iluminada

"Nós somos feministas, mas somos femininas."

Carolina Beatriz Ângelo



Decorreu no dia 8 de Abril, pelas 21h30, no Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, a conferência da Professora Antonieta Garcia com o título "Feminismos e a Primeira República: o caso de Carolina Beatriz Ângelo" e integrada no IV Ciclo de Conferências "As Mulheres e a I República". O Professor Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado e em representação do Vereador da Cultura e Vice-Presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão, Dr. Paulo Cunha, apresentou a conferencista, considerando que é a primeira vez que vem ao Museu um investigador do interior, realçando da Professora Antonieta Garcia não só os estudos sobre as identidades e do judaísmo, como igualmente sendo a que conhece mais de perto a historiografia do pensamento feminino na República e, caso concreto, de Carolina Beatriz Ângelo (CBA). Após a referência ao seu estudo inicial à volta da personalidade de CBA, a conferencista publicou o livro "Carolina Beatriz Ângelo: guarda(dora) da liberdade" na colecção "Gentes da Guarda", da Câmara Municipal da Guarda, realça o contexto social, económico e político da cidade, uma cidade da Guarda fortemente clerical, de fraca higiene pública e pobre. Havia uma plêiade de médicos notáveis e de excepcional valor, caso do famoso médico Sobral, que terá influenciado CBA, pelo sentido filantropo. Após os seus estudos no Liceu da Guarda, CBA ingressou nas Escolas Politécnica e Médico-Cirúrgica em Lisboa, tendo sido influenciada e tendo como mestres Ricardo Jorge ou Miguel Bombarda, terminando o curso de Medicina em 1902. Foi a primeira mulher a fazer uma intervenção cirúrgica e especializou-se em Ginecologia. O tempo social de Lisboa que CBA frequentou era um tempo conflituoso, difícil para as mulheres, surgindo, entretanto, a questão da intervenção da mulher na Respública. Citando Georges Duby, o qual dizia que a libertação das mulheres é quando se tornam em palavras, surge, assim, perante essa reivindicação participativa das mulheres não apenas um feminismo, mas vários feminismos, surgindo várias escritoras. As feministas, tal como os republicanos, acreditavam na educação para a emancipação das mulheres. E no caso de haver vários feminismos, surge, por exemplo, o caso de Maria Amália Vaz de Carvalho, que, apesar de defender essa mesma educação da mulher, no seu livro "Cartas a Luiza" realiza uma interpretação dualista de ambos os sexos, com as suas funções próprias. CBA pertence ao grupo das feministas gradualistas. Aliás, Afonso Costa considerava CBA a sufragista prática, enquanto que de Maria Veleda dizia que esta era uma sufragista vermelha. Isto significa que CBA pretendia o voto restrito, ao passo que Maria Veleda apostava no sufrágio universal. O voto da mulher para CBA seria o voto da mulher economicamente independente. Aliada do pacifismo, CBA defendia o serviço militar obrigatório para as mulheres, não no campo de batalha, mas exercendo outras funções, administrativas ou de saúde. Aliás, a Professora Antonieta Garcia cita uma frase muito peculiar de CBA: "Nós somos feministas, mas somos muito femininas". Como médica, CBA não era só médica do corpo, era também médica da alma. Mas tendo sido a primeira mulher médica em Portugal a realizar uma intervenção cirúrgica, a primeira médica da Ginecologia, foi também a primeira mulher a votar em Portugal nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1911. O facto de ter sido viúva permitiu-lhe invocar em tribunal que era chefe de família e cidadã com os seus plenos direitos e deveres. Se a par do contexto social e mental existia a submissão, a inferioridade e o sentido da maternidade para a mulher, CBA defendia a liberdade, a igualdade e a fraternidade para a mulher. A Professora Antonieta Garcia terminou a sua conferência com a metáfora: CBA pertence à "guarda da liberdade".


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